terça-feira, 6 de junho de 2017

Ainda é cedo para falar em fim da recessão, avalia IBGE



Para a coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis, é preciso "esperar para ver o que vai acontecer neste ano ainda" antes de afirmar que a recessão ficou para trás.
"Tivemos um crescimento no primeiro trimestre, até expressivo, só que contra uma base reduzida. Tivemos oito trimestres seguidos de queda. Então vamos ver o que virá aí para a frente", afirmou.
Questionada sobre os efeitos da crise política nas contas do segundo trimestre e também sobre os indicadores antecedentes mais fracos, Rebeca respondeu que "tudo influencia". Ela destacou ainda os efeitos da agropecuária na economia brasileira, que devem continuar contribuindo no período de abril a junho, principalmente, as culturas de soja e o milho.

No primeiro trimestre, se a economia brasileira fosse exclusivamente agrícola, o Produto Interno Bruto (PIB) teria crescido 0,8%, comparado a igual período de 2016, em vez de ter caído 0,4%. Contando ainda com a atividade extrativa mineral, a alta alcançaria 1%.
O avanço de 1,0% do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2017 (ante o quarto trimestre de 2016) não foi decorrente da alta no consumo, foi de acúmulo de estoques, apontou Rebeca Palis.
O avanço expressivo no PIB Agropecuário (13,4% no primeiro trimestre de 2017 em relação ao quarto trimestre de 2016) e a alta de 0,9% no PIB Industrial (0,9%) não foram acompanhados por crescimentos no Consumo das Famílias (-0,1%), Consumo do Governo (-0,6%) e Formação Bruta de Capital Fixo (-1,6%).
Embora as exportações tenham aumentado 4,8%, não explica sozinho o crescimento do PIB no período, ressaltou Rebeca.
"Muito do crescimento da agropecuária a gente ainda não absorveu, foi parar na variação de estoque. Soja, milho... Até porque o preço de commodities agrícolas não está tão favorável", disse a coordenadora do IBGE. "Eu produzi, qual o destino dele? Tem a questão do preço, mas não tem demanda ainda. Parte da safra está sendo consumido pelas famílias, porque os preços não estão altos, mas parte está indo para os estoques", completou.
Rebeca explicou que a componente Estoque não tem ajuste sazonal, por isso não figura entre os resultados do PIB pela ótica da demanda. "Se fosse possível dessazonalizar, estaria bastante positiva", contou. "Estamos com acúmulo de estoques de R$ 22 bilhões no primeiro trimestre", acrescentou.
No primeiro trimestre, a queda nos investimentos foi puxada pela importação de máquinas e equipamentos e pela construção civil. O consumo das famílias manteve-se praticamente estável. No setor externo, houve aumento nas exportações de veículos automotores, petróleo e minério de ferro, com preços mais favoráveis, apesar da valorização cambial.
O efeito da parada de produção provocada pelo acidente de Mariana (MG) saiu da base de comparação no PIB da indústria extrativa e mineral do primeiro trimestre, que cresceu 9,7% ante igual período de 2016 e 1,7% em relação ao quarto trimestre do ano passado, informou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Segundo Rebeca, o crescimento da indústria extrativa mineral foi puxada tanto pelo setor minerador quanto para o de petróleo e gás, cujos preços internacionais estão favoráveis para os produtores. Como as comparações se dão com o primeiro trimestre e o quarto trimestre de 2016, a parada brusca da mina da Samarco em Mariana não aparece mais nas estatísticas.
"Agora, a gente está comparando só com o período depois do acidente", afirmou Rebeca, referindo-se ao rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração da Samarco, no fim de 2015.
Já no PIB de serviços, chamou atenção, na comparação na margem, de um trimestre contra o trimestre imediatamente anterior, o desempenho negativo das atividades de intermediação financeira, previdência complementar e serviços relacionados. A queda de 1,2% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2016 foi a sétima seguida.
"O crédito continua caindo", afirmou Rebeca. Além disso, esse rol de atividades inclui os planos de saúde. A pesquisadora lembrou que a demanda pelos planos está em queda em função das restrições na renda das famílias.

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